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“A sociedade cria uma marginalização que não precisa existir”

Por: Raquel Paoliello com colaboração de Yara Moraes e entrevista com Mateus Brunette e Bruna Basílio.


fundo azul. título: 28 de junho dia do orgulho LGBTQIA+. ilustração de um punho fechado nas cores do arco-íris. no canto inferior direito está o logo do Instituto Modo Parités

Dia 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGTBQIAP+, data que celebra o amor, o respeito e a diversidade. Infelizmente, ainda hoje, a comunidade LGBTQIA+ sofre muitos preconceitos e discriminações, seja na sociedade, no mercado de trabalho e, em alguns casos, em suas próprias famílias.

Alguns avanços já foram conquistados e precisam ser conhecidos. Um deles é que LGBTfobia é crime - o primeiro projeto sobre o tema no Brasil foi apresentado no Congresso em 2001, como PL 5003/01, e tinha como objetivo determinar “sanções às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas”.

No dia 6 de abril deste ano de 2022, a Lei Maria da Penha também passou a ser contemplada para mulheres transsexuais. Isso demonstra um grande passo na luta diária contra o preconceito, pois esta foi sancionada em 7 de agosto de 2006 com 46 artigos que criam mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, em conformidade com a Constituição Federal (art. 226, § 8°) e os tratados internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher). No entanto, mulheres transsexuais não eram atendidas como mulheres, em casos de violência, como agora devem ser.

Essa medida é importante também porque os números são assustadores. Em relatório divulgado no dia 20 de abril de 2020 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), as ligações telefônicas para a Delegacia da Mulher aumentaram em 49,9% e o total de socorros prestados passou de 6.755 para 9.817, no período entre março de 2019 e março de 2020. A quantidade de feminicídios também subiu de 13 para 19, ainda de acordo com o mesmo relatório.

Com as mulheres trans isso é ainda pior, pois a comunidade LGBTQIA+ sempre sofreu muito preconceito. Em 2021, foram registrados 140 assassinatos de pessoas trans no Brasil. Deste total, 135 tiveram como vítimas travestis e mulheres transexuais e cinco vitimaram homens trans e pessoas transmasculinas. O número foi menor do que o do ano anterior, quando foram registrados 175 assassinatos de pessoas trans. Mas foi superior ao de 2019, no período pré-pandemia, quando foram contabilizados 124 óbitos. O número de 2021 está acima da média desde 2008, de 123,8 homicídios anuais de pessoas pertencentes a esse segmento. A perversidade também é refletida nos hábitos contraditórios de homens brasileiros: ao mesmo tempo em que o Brasil lidera o ranking de buscas em sites de pornografia com pessoas trans, também é o país que mais mata pessoas trans, fazendo com que a letra T seja a mais vulnerável da sigla LGBTQIAP+.

Mesmo que o G seja considerada a letra de maior aceitação na sociedade, homens gays continuam sofrendo violência, discriminação e preconceito. Leia a entrevista que o cantor Mateus Brunette concedeu à jornalista Raquel Paoliello, sobre sua experiência neste contexto.


Nosso entrevistado, Mateus Brunette, 30, é cantor e gay, representando a letra G da sigla LGBTQIAP +. Mateus nos conta que no começo sua auto aceitação foi bem difícil e nem ele mesmo sabia o que estava acontecendo, e foi se descobrindo e entendendo o que isso significava aos poucos. Ele se assumiu aos dezenove anos de idade, e contou que se assumiu primeiro para os primos e alguns amigos, com quem tem maior afinidade. Depois se abriu para seus pais. Ele luta contra a homofobia todos os dias e diz que sempre apoiou a causa.

Mateus afirma também que recebeu muitas negativas em seu trabalho e que não podia assumir o namoro, já que não tinha certeza da reação dos contratantes e/ ou do público.


imagem em preto e branco de um homem branco de cabelos e olhos castanhos e bigode, ele veste uma camiseta branca.
Mateus Brunette

Em 2020, Mateus, que começou sua carreira de cantor aos 8 anos de idade, quis dar uma virada na carreira e assumiu uma nova fase, se tornando um cantor LGBTQIAP+. A primeira música dessa nova fase, intitulada “Pra Mim é Amor”, e ele diz que se inspirou em sua própria história para compor a letra. Antes ele cantava estilo sertanejo.


Nossa outra entrevistada, representante da letra L, Bruna Basílio, é fotógrafa, 30 anos de idade, casada e afirma que no começo, quando assumiu teve muitos problemas com sua própria aceitação e sua família não a aceitava.

“Onde eu cresci, pessoas que gostavam de outra pessoa do mesmo sexo era muito extremismo, o conceito era somente de “o homem que se vestia de mulher”, ou “a mulher que se vestia de homem”. Eu não me via nessa posição, então não cabia na minha realidade. A minha primeira relação com outra mulher foi aos 18 anos de idade.”

Na opinião de Bruna, o que falta para a sociedade aceitar a comunidade LGBTQIAP+ é desmistificar o tabu.


imagem em preto e branco de uma mulher branca de cabelos lisos e castanhos, ela veste camiseta e calça preta e está sentada em um estúdio de fotografia com refletores apontados para ela.
Bruna Basílio

“Acho que se cria uma marginalidade onde não existe, cria-se uma prosmiciudade que é característica do mundo hétero, sempre existiu e ninguém nunca se sentiu ofendido. Acho que a sociedade precisa levar em consideração o caráter de uma pessoa, se ela é honesta, se ela faz mal a alguém, isso sim deveria ser peso para preconceito. Enquanto a sociedade não entender que o amor não deve sofrer com preconceito, enquanto entre os valores da sociedade não tiver o bem em comum como alvo, todos os preconceitos vão viver no dia a dia com a gente”.


Quer conhecer mais sobre o tema? Acesse estas fontes:

Dossiê Assassinatos e Violências Contra Travestis e Transexuais Brasileiras em 2021.


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